Apesar do nascimento de “Jesus, o Cristo” no dia 25 de dezembro
não ser um evento histórico, não devemos negar a importância mística e
religiosa de lembrarmos o nascimento de um Grande Instrutor. Certamente terá um
intenso efeito espiritual voltarmos o pensamento em direção ao Mestre Jesus. E,
certamente, não pretendemos mostrar que o natal é um mero acontecimento
astronômico. Esses dois aspectos, reunidos ao simbolismo e ao misticismo
inerentes à idéia do nascimento do Cristo no coração dos homens, nos levarão a
uma maior percepção do significado mais profundo, no qual o natal passa a ser
visto como um grande Rito Cósmico, o qual harmoniza as forças espirituais do
macro ao micro e microcosmos.
Como constantemente destaca Geoffrey Hodson, não podemos
esquecer que toda narração bíblica possui nitidamente um caráter alegórico e
que as etapas representadas por Jesus no texto são uma demonstração da jornada
evolutiva da alma humana. Em “The Hidden Wisdom in the Holy Bible” o autor nos
indica que a primeira chave para se interpretar as escrituras cristãs é tomar
os relatos externos – pretensamente históricos – como acontecimentos interiores
(subjetivos). Também Orígenes, o sábio cristão de Alexandria, realça que os
textos bíblicos contém um “corpo, uma alma e um espírito”. Não devem ser
tomados no seu sentido literal e sim assimilados a partir de seus níveis mais
internos, usando-se a Gnose, instrumento indispensável para a compreensão real
do sentido alegórico. A Bíblia é um texto inspirativo. Seus autores nunca
pretenderam criar uma fonte de fatos históricos.
Nos ensinamentos de todas as grandes religiões existe a idéia da
necessidade de “nascer de novo”, “ser iluminado”, “despertar” para outro nível
de consciência. E sempre que isto acontece, brilha uma Estrela, símbolo do
Homem Perfeito. É a presença invisível de Melquisedec, o supremo sacerdote de
Deus na Terra, o Rei dos Reis, junto àquele que está sendo recebido na Comunhão
do Santos, no Reino dos Céus, por ser ele o chefe da grande Ordem Espiritual no
planeta. Este passo é sempre representado como um nascimento é a recepção da
“criança” (símbolo da pureza) em um novo mundo.
A alegoria do nascimento de Jesus em uma “gruta”, ou em uma
“caverna”, é o despertar da Alma, é o nascimento do Cristo interno, da
Divindade presente nos corações dos homens. É o surgir da luz que dissipará as
trevas. Em outra linguagem, diríamos que é na cavidade do coração que brota a
Rosa que irá ser o centro da Cruz. Deste modo, o nascer do menino Jesus, na
festa do natal, é símbolo do despertar da consciência crística.
São Paulo, que viveu depois de Jesus, nos relata que ele
conheceu o Cristo quando foi arrebatado ao terceiro céu. Diz ele: “Conheço um homem em Cristo que, há quatorze
anos foi arrebatado ao terceiro céu... E sei que esse homem foi arrebatado até
o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao homem repetir”. [21]
Era dessa experiência interior que ele retirava sua convicção para dizer que
“Cristo em vós, é a esperança de glória”.
Esta perspectiva nos mostra que o natal é algo sempre atual, uma
comemoração no presente e não mero lembrar do passado. É uma celebração
interior, com vida e energia transformadora. Deve ser uma abertura do coração
do homem para o coração do mundo. Sem dúvida o natal deve ser uma grande festa,
mas uma festa para a Alma e a Natureza. Após toda uma preparação nos reinos
invisíveis e nos mundos espirituais, e após o instante do solstício, todo o
planeta recebe uma grande efusão de energia.
Por esse motivo, é correto considerar o natal como um Rito
Cósmico e Ecológico, no qual podemos participar ativamente, tendo como centro o
harmonizar-se com o todo e não apenas desejar receber. É importante estarmos
abertos e receptivos, ao mesmo tempo em que procuramos contribuir com nossa
força interior, ofertando bons pensamentos e criando um clima de paz e
fraternidade. Há uma maior possibilidade de um despertar da consciência, pois
bênçãos superiores infundem-se sobre a humanidade. Cristo nasce na Natureza,
pois o natal não é apenas o nascimento simbólico do Sol. Em seu aspecto
energético, é o nascimento do Cristo imanente na Natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário