Annie Besant na obra “O Cristianismo Esotérico” elucida muitos
aspectos do lado místico e simbólico do Cristianismo. A autora mostra que o dia
25 de dezembro foi escolhido pelo Papa Júlio I, no século IV, para ser a data
comemorada. Foi um decreto papal o instrumento usado para superar o impasse até
hoje não solucionado. Leadbeater comenta que o dia 25 de dezembro foi
selecionado da primitiva história eclesiástica “porque coincidia com o grande
festival do Sol”[14] e que foi naturalmente conveniente tomar vantagem de uma
celebração pública já existente.
Outro especialista sobre as origens do Cristianismo, o Dr. Alvin
Boyd Kuhn, em seu livro, “A Rebirth for Christianity” nos fala que “em 345 d.C. uma encíclica emitida pelo Papa
Júlio(*) decretou o deslocamento da data do natal de 25 de março para 25 de dezembro,
com a expressa afirmação de que esta medida foi tomada para alinhar a
celebração cristã do nascimento do Salvador com o costume dos seguidores de
Baco e de Mitra que comemoravam o nascimento da Divindade no solstício de
inverno”. [15] Portanto, é um reconhecimento oficial em relação ao fato de
que a celebração do natal é anterior ao nascimento de Jesus.
O cristianismo, do mesmo modo que as outras grandes religiões,
foi fundado no hemisfério norte, tendo suas datas relacionadas àquele
hemisfério.
(*) Na edição de 1970 aparece Julio XI. Besant cita Julio I.
Em “The
Inner Side of Christian Festivals”, encontramos que o renascimento do Deus-Sol
ocorria após o solstício de inverno, sendo que a Terra atingia um ponto de
reinício de sua órbita ao redor do Sol. O autor acrescenta: “aqueles que não reconhecem o significado
simbólico da vida do Cristo naturalmente supõem que todas essas comemorações
eclesiásticas são meramente históricas”. [16]
São Crisóstomo, em 390 d.C., num trecho citado por Besant, disse
que “este dia”, 25 de dezembro, em Roma,
acaba de ser escolhido como o nascimento de Cristo, a fim de que os pagãos,
ocupados com suas cerimônias, deixem os cristãos celebrar seus próprios ritos
sem ser molestados. [17] Os “pagãos”, aqui referidos, são os outros povos e
suas religiões. E eles não molestavam os cristãos, já que suas celebrações eram
anteriores. Outra passagem semelhante encontramos na obra “The Gnostics and
Their Remains” de C.W. King, que destacou: “a antiga festa celebrada a 25 de
dezembro, em honra do nascimento do Ser Invencível, e assinalada por grandes
jogos no circo, cuja data certa, como confessam numerosos Padres da Igreja, era
então, como hoje, desconhecida”. [18]
Na obra “Decadência e Queda do Império Romano”, de Gibbon, lemos
que “os romanos (cristãos), tão ignorantes como seus irmãos com relação à data
do nascimento do Cristo, escolheram, para festejá-la, o 25 de dezembro, no
momento das brumélias do solstício de inverno, nas quais os pagãos celebram
cada ano o nascimento do Sol”. [19] Como vemos, são vários os autores que
mostram a data do “natal” sendo adaptada ao solstício. Destaco outra colocação
clara do bispo Leadbeater: “Estes
festivais do Deus-Sol tinham sido preservados por milhares de anos antes do
nascimento de Jesus”. [20]
Foi, pois, após o século IV que os “cristãos” passaram a
celebrar o nascimento do “chrêstos”, o Espírito Divino, o Deus-Sol, do mesmo
modo como faziam os chamados pagãos – egípcios, caldeus, gregos, hindus,
astecas e vários outros povos. Em termos astronômicos, todos festejam o
solstício de inverno, assim como a Páscoa tem relação com o equinócio de
primavera no hemisfério norte.
Segundo o “Glossário Teosófico” de H.P. Blavatsky é provável que
o solstício de inverno coincidisse primitivamente com o 25 de dezembro, mas que
devido à precessão dos equinócios ocorre uma antecipação da hora do solstício
anualmente. Blavatsky cita o escritor Emílio Burnouf, que no livro “A Ciência
das Religiões”, diz que o culto cristão está distribuído segundo a marcha do Sol
e da Lua e que o solstício de inverno no hemisfério norte está ocorrendo antes
do dia citado. Hoje, se fôssemos ser fiéis ao aspecto astronômico, teríamos que
celebrar o nascimento do Cristo místico no dia e no momento exato da posição do
Sol. No ano de 1983, como exemplo, isto aconteceu às 10 horas e 31 minutos do
dia 22 de dezembro, horário de Greenwich. Após o solstício, a Terra em seu
movimento em torno do Sol, atinge a sua menor distância em relação ao Sol. Em termos místicos significa que com o nascimento
do Cristo a luz aproxima-se mais dos homens.
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